Após o fracasso do Plano Trienal, da economia
e dos índices de inflação altíssimos, o governo de João Goulart (Jango) ficou
extremamente enfraquecido e sem apoio. Com isso, os movimentos sociais
começaram a fazer pressão, exigindo transformações substanciais na sociedade.
Os líderes estudantis da União Nacional dos Estudantes (UNE) entraram em cena,
clamando pelo fim da exclusão social e do analfabetismo.
Nesse contexto ocorreu uma rebelião de
sargentos em Brasília, que queriam o direito de se candidatar a cargos
eletivos. Essa rebelião foi vista pelo alto escalão das Forças Armadas como uma
severa ameaça à hierarquia militar. Num clima de tensão e enfraquecido
politicamente, Jango realizou na Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro,
um grande comício no dia 13 de março. Diante de mais de duzentos mil
manifestantes, o presidente assinou decretos de grande impacto popular, como a
nacionalização das refinarias de petróleo privadas e a desapropriação de
terras, para a reforma agrária, situadas às margens de ferrovias e rodovias
federais.
No dia 19 de março, em resposta ao comício do
Rio, foi realizada em São Paulo a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade. Na passeata, os manifestantes pediam a Deus e aos
militares que salvassem o Brasil do perigo comunista, presente na figura de
Jango. O desfecho para o Golpe ocorreu quando João Goulart apoiou a
manifestação dos marinheiros no Rio de Janeiro, em 30 de março. O apoio de
Jango foi o estopim para o Alto Comando das Forças Armadas acusar o presidente
de conivência com os atos de insubordinação que ameaçavam a hierarquia militar.
O golpe militar foi saudado por importantes
setores da sociedade brasileira. Grande parte do empresariado, da imprensa, dos
proprietários rurais, da Igreja Católica, vários governadores de estados
importantes e amplos setores de classe média pediram e estimularam a
intervenção militar, como forma de por fim à ameaça de esquerdização do governo
e de controlar a crise econômica. O golpe também foi recebido com alívio pelo
governo norte-americano, que acompanhou de perto a conspiração e o desenrolar
dos acontecimentos, principalmente através de seu embaixador no Brasil, Lincoln
Gordon, e do adido militar, Vernon Walters, e haviam decidido, através da secreta
“Operação Brother Sam”, dar apoio logístico aos militares golpistas, caso estes
enfrentassem uma longa resistência por parte das forças leais de Jango.
O golpe afastou Jango da presidência da
República, substituindo-o pelo comando militar do General Costa e Silva, do
Brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo e do vice-almirante Augusto
Hamann. Esses militares iniciaram o processo de cassação dos mandatos
parlamentares, afastando da vida política as pessoas que não se adequassem ao
novo sistema político.
Os militares envolvidos no
golpe de 1964 justificaram sua ação afirmando que o objetivo era restaurar a
disciplina e a hierarquia nas Forças Armadas e deter a “ameaça comunista” que,
segundo eles, pairava sobre o Brasil. Uma ideia fundamental para os golpistas
era que a principal ameaça à ordem capitalista e à segurança do país não viria
de fora, através de uma guerra tradicional contra exércitos estrangeiros, mas
sim, viria de dentro do próprio país, através de brasileiros que atuariam como
“inimigos internos”. Esses “inimigos internos” procurariam implantar o
comunismo no país pela via revolucionária, através de “subversão” da ordem
existente. Essa visão de mundo estava na base da chamada “Doutrina de Segurança
Nacional” e das teorias de “guerra anti-subversiva” ensinadas nas escolas
superiores das Foras Amadas.
Os crimes
cometidos no período são tratados até hoje como um tabu nas Forças Armadas, que
não admitem o fato de que milhares de pessoas foram torturadas e algumas
centenas foram mortas por se opor ao regime militar. A ditadura modernizou a
economia e teve apoio popular nos seus primeiros anos, mas muitas pessoas só
aceitam a contragosto as evidências de que isso ocorreu.
1964, Os Militares Assumem
o Poder no Brasil - Testemunha da História:
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